Matéria por: para a Revista Alagoana
O Inventário Participativo, criado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), é uma ferramenta para identificar, documentar e divulgar bens culturais, como saberes, celebrações, formas de expressão e lugares. Ele valoriza a participação da comunidade, que desempenha um papel central ao inventariar, descrever, classificar e definir o que considera patrimônio. Esse processo dialogado busca compreender esses aspectos por meio da mobilização coletiva e da participação dos interessados.
Em Maceió, este trabalho foca nos residentes e ex-moradores dos bairros Bebedouro, Bom Parto, Mutange, Pinheiro e Farol, além daqueles que moravam fora deles, mas exerciam práticas culturais, artesanais ou religiosas, com frequência, dentro desses bairros afetados.
É sabido que nesses bairros os saberes culturais eram variados e as celebrações eram as mais diversas até que o afundamento de solo causado pela Braskem chegou à região. Ruas inteiras estão saindo do mapa. Os imóveis que restam estão cercados por tapumes. Moradores que resistem estão “ilhados”. Primeiro, a descaracterização do subsolo desses bairros, agora a superfície desses mesmos territórios pouco se parece como antes.
Podemos não professar das religiões de matrizes africanas, mas é inegável não comparar como a história da alagoana Tia Marcelina no início do século passado – quando seu solo sagrado foi violado apenas por cultuar sua fé em diáspora – se parece com a que milhares de alagoanos enfrentam atualmente.
Cabe a nós refletirmos a frase “quebra braço, quebra perna, tira sangue, mas não tira o saber” que Tia Marcelina verbalizou, quando invadiram e a forçaram a sair de seu chão.
É pela razão de acreditar que os saberes e fazeres de alguém permanece na memória coletiva dos pertencentes a um território transgredido, que uma equipe engajada, formada por profissionais experientes na realização de pesquisas nesse formato, e com a colaboração de moradores e ex-moradores atuando como pesquisadores estão conduzindo o Inventário Cultural Participativo, na cidade de Maceió. No entanto, a adesão e colaboração dos entrevistados e fazedores culturais destas localidades, são fundamentais para o alcance dos objetivos deste trabalho.
Fotos: Benita Rodrigues.
O processo de chamada pública para formar uma equipe de 20 agentes comunitários de pesquisa foi amplamente divulgado para a população. O processo seletivo também se preocupou em oferecer uma formação básica inicial a todos os participantes pré-selecionados, e contínua para os selecionados a fim de executarem as suas funções. Agora, é chegado o momento de mostrar que há vida, em suas particularidades e resistências, após toda a dura realidade da readaptação, realizando um censo dos fazedores de cultura dos bairros de Bebedouro, Mutange, Bom Parto, Farol e Pinheiro, a ser realizado por agentes comunitários de pesquisa que entrarão em contato com você.
A participação social nesse processo de produção de conhecimento e reconhecimento é fundamental para a salvaguarda das referências culturais, especialmente de natureza imaterial, posto que os bens dessa natureza só podem ser preservados por meio da ação de seus atores sociais, detentores dos sentidos e significados.
Prezando a transparência, o processo do Inventário Cultural Participativo é gerido pela Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (FUNDEPES) atendendo as exigências indicadas no Termo de Acordo Socioambiental entre a Braskem e os Ministérios Públicos Federal e do Estado de Alagoas. Para acompanhar todo o passo a passo das ações deste projeto, sugerimos acompanhar o instagram oficial @ipcimaceio.
Por fim, nosso jornalista Bertrand Morais, ao tempo que é morador do bairro Farol, também foi um dos selecionados para a missão de entrevistador, por entender que a participação de um profissional da comunicação neste processo faz parte de sua competência, enquanto o vínculo, mesmo que temporário, não fere a missão e valores da Revista Alagoana, tais como um jornalismo independente e promovedor do protagonismo de pessoas e seu exercício do direito de perpetuar suas tradições e saberes.
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